SE PALAVRAS FOSSEM PESSOAS
- Lilian Vasques
- 23 de fev. de 2016
- 3 min de leitura
Várias definições das palavras fé, zelo e coragem flutuam no ar a minha frente, quase como se os livros, papéis e anotações tivessem jogado para o alto seus conceitos. Mas verdade seja dita: verbetes objetivos tirados de um dicionário não puderam oferecer mais do que palavras complexas e vazias. E com vazios não posso escrever um texto sobre algo tão repleto de significados. Pensei então em falar da minha fé, dos meus poucos atos corajosos e do meu zelo para definir esses termos. Contudo me pareceu insuficiente ser a única testemunha de um texto escrito por mim. Precisava de mais e encontrei o que faltava. Encontrei gente que sendo o que é definiu as palavras do início melhor que qualquer Aurélio.
Aquela sala pequena com cheiro de madeira e giz dentro da igreja parecia não ser capaz de comportar toda a felicidade que ela transbordava. Não parava de sorrir entre uma história e outra. Naquele momento a fé vestia uma bata floral colorida, possuía cachos miúdos e pele negra, nunca pensei que a fé pudesse sorrir tão largo. Isadora Almeida, 22 anos, serviu por 18 meses na missão Brasil Maceió e conta com alegria suas experiências em campo missionário, “foi tão bom e eu aprendi tanto, lá as pessoas são bem simples. É outra cultura sabe? Mas é uma experiência única que me mudou”. Ela passou por uma série de desafios durante esse tempo, deixou seus planos de carreira para depois e começou a se preparar para seguir o desejo de seu coração. A adaptação certamente não foi a parte mais fácil, “deixar a minha mãe foi o mais difícil, somos muito próximas!”,contudo nada abalou o desejo de ir e continuar.
Faz um ano e dois meses que Isadora retornou. Agora ela estuda Letras na Universidade Estadual de Londrina e leva a vida de uma jovem comum, que sai, ri e é grata por não ter que encarar tanto coentro em sua comida novamente. Mas carrega a diferença no semblante de quem acordava cedo todos os dias e lembrava-se de alguém que precisava dela, de quem, com todo o calor e sol do nordeste, ia às ruas todos os dias e andava o tempo que fosse necessário para visitar aquela família, pra ensinar aquele homem e pra ajudar aquela senhora com os afazeres. “Você só tem que confiar e as coisas vão dar certo. Parece clichê, mas a missão foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida”. A fé é atitude de fidelidade, é princípio de ação e a fé se emociona quando declara com convicção saber o que é certo.
Quanto ao zelo, bom, esse fui encontrar em outra sala subindo as escadas. Ele usava uma camiseta azul marinho e os óculos transmitiam uma seriedade que combinava muito bem com a postura certinha e o jeito calmo e baixo de falar. Mas quando começou a contar sua experiência descobri que o zelo sorri até as bochechas ficarem vermelhas e os olhos já puxados quase se fecharem. “Eu sempre tive vontade, sempre tive na minha mente que eu iria servir uma missão”. Luíz Felipe Tsukuda, 20 anos, voltou há 6 meses da missão Brasil Belo Horizonte onde serviu por dois anos. O rapaz definiu sua experiência na palavra aprendizado, “a maneira que eu vejo as coisas é diferente agora: o que eu quero, minhas metas, minha visão sobre todas as coisas e planos, mudou”.
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